quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Terapia Cognitivo Comportamental - Pressupostos Básicos


A terapia cognitivo-comportamental tornou-se na modalidade de tratamento mais estudada, pesquisada e validada em todo o mundo. Baseia-se na premissa de que a inter-relação entre cognição, emoção e comportamento está implicada tanto no funcionamento normal como no funcionamento disfuncional – neste caso na psicopatologia - e abrange uma grande variedade de abordagens tanto do modelo cognitivo, como do comportamental (Knapp, 2004).

“O que perturba o ser humano não são os factos, mas a interpretação que faz dos factos”
                                                                                              Epitectus – Século I

Desta forma, uma situação do nosso quotidiano pode gerar diferentes formas de pensar, sentir e agir, mas não é a situação em si que gera as emoções e os comportamentos mas sim o que pensamos acerca da situação – as nossas emoções e comportamentos são influenciadas por aquilo que pensamos. Assim, as situações activam os nossos pensamentos, os quais geram como consequência as nossas emoções e comportamentos (Knapp, 2004).
Por exemplo, imaginemos a situação em que passamos por alguém na rua e que, por qualquer motivo essa pessoa não nos cumprimenta, podemos pensar “Não me viu” ou “Fingiu que não me viu porque não me quis cumprimentar”, havendo muitas mais hipóteses. A pessoa que pensa “Não me viu” poderá acenar ou chamar pela pessoa, enquanto que aquela que pensou “Fingiu que não me viu, porque não me quis cumprimentar” poderá passar para outro lado da rua. Através desta situação facilmente percebemos, que uma situação gera em nós determinados pensamentos – de acordo com o modelo são denominados pensamentos automáticos – que por sua vez geram comportamentos, emoções e até mais pensamentos.
Outro conceito, bastante importante, é o de distorções cognitivas que são distorções no pensamento, enviesamentos sistemáticos na forma como os indivíduos vêem o mundo. Por exemplo, um indivíduo deprimido tem tendência a interpretar tudo na sua vida como negativo – o eu, o mundo e o futuro – o que constitui a tríade cognitiva.
Assim, a abordagem beckiana propõe que nos problemas psicológicos, o pensamento do indivíduo torna-se não só mais distorcido, como também mais rígido, os pensamentos tornam-se absolutos e generalizados; e as crenças fundamentais mais inflexíveis.
De acordo com a hipótese da especificidade de conteúdo (Beck et al, 1967, cit. in Knapp, 2004) as perturbações psicológicas têm um conteúdo cognitivo específico, ou seja uma temática própria de cada perturbação. Por exemplo, na depressão a temática gira em torno da desvalorização e da perda, enquanto nas perturbações mediadas pela ansiedade a temática está centrada no perigo e ameaça.
O modelo sugere que devido à inter-relação de vários factores – genéticos, ambientais, culturais, físicos, familiares e personalidade – estes predispõem o indivíduo à vulnerabilidade cognitiva. Desta forma, a interacção de todos estes factores levam à formação de crenças e pressupostos idiossincráticos de si mesmo, dos outros e do mundo, que predispõe e tornam o indivíduo vulnerável a determinada perturbação. Assim, existem vulnerabilidades cognitivas específicas que tornam os indivíduos vulneráveis para determinados quadros psicopatológicos.
Não menos importante é o conceito de esquema que pode ser definido como uma estrutura do conhecimento onde está armazenada a informação. Os auto-esquemas, por exemplo, contém generalizações acerca do eu. Os esquemas guiam o processamento de informação uma vez que de acordo com o esquema que esteja activado é que interpretamos determinada situação. Assim, o que dá o significado é o esquema, e não o estímulo ou situação.
O conteúdo do esquema diz respeito ao conhecimento que está nele armazenado. De acordo com o conteúdo dos esquemas podemos classificá-los em Crenças Nucleares – que são de natureza incondicional, o conteúdo desse esquema é uma verdade incondicional para a pessoa, por exemplo “Eu não presto” -, Crenças Condicionais - que se apresentam sob a forma de regras “Se… então” ou suposições para avaliação de si mesmos e do mundo, por exemplo “Se eu não tiver sucesso, então sou um falhado”-, e, por último, as Crenças intermediárias – que derivam das anteriores e servem para evitar activar os esquemas que trazem sofrimento (são como contractos que as pessoas fazem consigo mesmas), por exemplo “Tenho que ter sucesso senão sou um falhado”.

1 comentário:

  1. Bibliografia

    Knapp,P. & Colaboradores. (2004). Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica.Porto Alegre:Artmed.

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